Quase metade dos doentes que chegam aos
hospitais infetados com o Vírus da Imunodeficiência Humana, sem o
saber, já estão em tal fase da doença que acabam quase sempre por
morrer, disse, esta segunda-feira, a presidente da Associação Abraço.
A propósito dos 20 anos desta
associação de apoio a seropositivos, que se assinalam terça-feira,
Margarida Martins chamou a atenção para o estado avançado da infeção por
VIH com que chegam ao hospital os doentes que desconhecem ter sido
infetados.
Esta situação deve-se ao aumento do número de pessoas que não faz testes ao VIH, desconhecendo o seu estado.
"Quarenta
por cento das pessoas que chegam ao hospital, sem saber que estão
infetadas, chegam muito mal e muitas para morrer", disse, acrescentando
que esta é "uma situação que se tem vindo a agravar".
A explicação para esta realidade é a política de prevenção que tem sido descurada.
"Não
há um plano para parar esta pandemia. É preciso chamar a atenção dos
jovens para a infeção, mas também alertar as pessoas para a necessidade
de saberem o seu estado, para terem acompanhamento médico e não chegarem
ao hospital para morrer, porque nunca fizeram o teste do VIH", afirmou.
A
responsável lembra que há menos chamadas de atenção, menos campanhas de
sensibilização e de prevenção, e exemplifica com o caso da associação a
que preside.
"Deixámos de ter espaço para campanhas em horário
nobre. Deixámos de ter apoios. Era tudo pro bono, mas há oito anos que
não conseguimos fazer isso - com a lei dos oito minutos de publicidade,
deixámos de conseguir entrar nas televisões", alertou.
Para
Margarida Martins, o agravamento desta situação é acompanhada de outros
casos preocupantes, como a substituição de medicação em alguns
hospitais, sem que os doentes tenham disso conhecimento.
"Alguns hospitais mudam as terapêuticas sem informar as pessoas, só para baixar os custos", denunciou.
Outro
problema com que os doentes se têm deparado é a necessidade de irem
mensalmente aos hospitais para receber a medicação, quando antigamente
iam aproximadamente de três em três meses.
Segundo Margarida
Martins, trata-se de mais uma política de contenção de custos que obriga
a que as pessoas tenham que se deslocar mais vezes aos hospitais.
Para
assinalar os seus 20 anos de existência, a Abraço vai "animar" as
cidades de Lisboa e Porto durante a tarde, com passeios pelas ruas, em
autocarro de dois andares, com música ao vivo dos "Tocárufar" e com
animação a cargo de DJ's.
Simultaneamente serão distribuídos
preservativos dourados, juntamente com informação, "sem tabus nem
preconceitos", de consciencialização para a importância da prevenção do
VIH/Sida.