06 fevereiro 2009

Terapia genética contra HIV testada nos EUA

Doze doentes seropositivos com problemas de resistência aos tratamentos contra o vírus da sida começaram esta semana a ser recrutados para participar no primeiro ensaio clínico de uma terapia genética anti-HIV, destinada a imunizar de forma personalizada as células de cada um dos doentes contra o temível vírus. Ninguém sabe se este tratamento, que consiste em desactivar um gene indispensável à entrada do HIV nas células imunitárias humanas, poderá ou não funcionar um dia. Mas resultados promissores obtidos nos últimos meses levaram uma equipa da empresa californiana Sangamo BioSciences e da Universidade da Pensilvânia, liderada por Carl June, a avançar com a primeira fase da experiência.
À superfície dos linfócitos CD4 humanos (o principal alvo do HIV), há uma proteína, a CCR5, sem a qual o HIV não consegue invadir essas células. Sabe-se desde 1996 que uma pequena minoria de pessoas, naturalmente imunes ao HIV, são portadoras de uma mutação precisamente no gene que comanda o fabrico da proteína CCR5. Essas pessoas herdaram duas cópias não funcionais do gene - uma vinda do pai, outra da mãe. E como nenhuma delas funciona, a proteína CCR5 não é produzida pelos linfócitos CD4 - e não aparece à sua superfície, o que impede a entrada do HIV.
Para inactivar deliberadamente o gene CCR5, os cientistas utilizam uma proteína sintética (cujo nome técnico é "nuclease dedos de zinco" - em inglês zinc finger nuclease). Injectada nos linfócitos, ela retira um bocadinho de ADN a cada uma das duas cópias do gene CCR5. A seguir, a célula "remenda" o gene, mas este, sem aquele bocadinho, já não funciona. No fundo, imita-se a natureza: tudo se passa como se os linfócitos tivessem sofrido espontaneamente a mutação imunizante. Há seis meses, June e os colegas já tinham experimentado o efeito desta desactivação deliberada do gene CCR5 em linfócitos humanos em cultura e em ratinhos imunodeficientes infectados com HIV. Em ambos os casos, o tratamento permitiu reduzir a carga viral e, nos animais, fez aumentar o número de linfócitos CD4 (indicador de uma certa "regressão" da doença).
Os cientistas tencionam colher linfócitos não infectados junto dos 12 voluntários, torná-los mutantes para o CCR5 num tubo de ensaio, cultivá-los para obter uns 10 mil milhões de linfócitos mutantes e por último reintroduzi-los nos seus donos. O que esperam é que - para além de não ter efeitos indesejáveis - o tratamento surta efeitos positivos semelhantes aos observados in vitro e nos ratinhos.
05.02.2009, Ana Gerschenfeld
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