13 setembro 2013

Vacina contra vírus da sida nos símios confere protecção a macacos-rhesus

Uma equipa de cientistas criou uma vacina contra o vírus da imunodeficiência símia (VIS), equivalente ao vírus que provoca a sida em humanos, o vírus da imunodeficiência humana (VIH). Esta vacina provou funcionar em cerca de metade dos macacos-rhesus testados. Entre um ano e meio e três anos depois, todos os testes feitos a estes macacos não conseguiram encontrar sinais do vírus da imunodeficiência símia (VIS), que se esconde muitas vezes no ADN de certas células. Os resultados, publicados num artigo da edição desta quinta-feira da revista Nature, mostram que a estratégia desta potencial cura em macacos é, escrevem os autores, “promissora” para o desenvolvimento de uma vacina contra o VIH.

A vacina foi feita a partir de um vírus da família dos citomegalovírus que infecta os macacos-rhesus. O vírus que causa a herpes é também um citomegalovírus, que vai reaparecendo ao longo do tempo. Mas estas partículas utilizadas para vacina foram alteradas pelos cientistas da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon, nos Estados Unidos, para estarem atenuadas e para apresentarem proteínas do SIV. Deste modo, o sistema imunitário dos símios está constantemente a ser “espicaçado” com estas proteínas do VIS e acaba por criar uma classe de glóbulos brancos, os linfócitos T, dedicada a atacar e a matar tudo o que apresente as proteínas do VIS.

Depois de vacinarem os macacos-rhesus, os cientistas infectaram estes símios com uma estirpe altamente patogénica do VIS. Tal como o HIV, o VIS infecta e reproduz-se em algumas classes de células do sistema imunitário. Neste processo, acaba por matar estas células, tornando o corpo do hospedeiro vulnerável a infecções que, antes, eram facilmente controladas. Normalmente, os macacos-rhesus não sobrevivem mais do que dois anos quando contraem esta estirpe virulenta do VIS.

Mas, desta vez, depois dos primeiros meses, onde mostravam sofrer da infecção, cerca de metade dos símios conseguiu controlar o vírus. Passados mais de dois anos e meio, os cientistas correram uma série de testes à procura do vírus VIS, que, sendo semelhante ao HIV, pode esconder-se durante anos no ADN de certas células, os chamados “reservatórios” do vírus. Mas não encontraram nenhum fragmento ou sinal do agente patogénico nos símios.

 Memória imunitária de longo prazo
A equipa defende que o sistema imunitário dos macacos-rhesus está recorrentemente a ser relembrado do VIS sempre que os citomegalovírus voltam a replicar-se e a mostrar proteínas do outro vírus. Por isso, cria-se uma memória imunitária de longo prazo contra o VIS nestes linfócitos e, qualquer vírus que volte à vida a partir de uma célula-reservatório, é controlado pelos linfócitos T, que matam essa célula.

“É sempre difícil alegar que estamos perante a erradicação do vírus – pode sempre existir uma célula, que não foi analisada, e que tem o vírus lá dentro”, começa por dizer Louis Picker, do Instituto para Vacinas e Terapia Genética da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon. “Mas, no geral, utilizando critérios muito rigorosos, não há nenhum vírus [VIS] no corpo destes macacos”, diz o líder da equipa que conduziu o estudo, citado pela BBC News.

Os cientistas vão agora tentar compreender por que é que, na outra metade dos macacos-rhesus, a vacina não teve efeito. Mesmo assim, estão convencidos de que esta descoberta poderá ajudar a desenvolver uma vacina contra o VIH. “É concebível que os linfócitos T estimulados e mantidos por um citomegalovírus possam exercer uma pressão imunitária nas células que expressem proteínas do HIV e facilitem a deplecção de reservatórios residuais de HIV nos pacientes que estão a fazer tratamentos anti-retrovirais para suprimirem o vírus”, escrevem os autores no artigo da Nature.

O primeiro passo para desenvolver uma vacina parecida para humanos é construir um citomegalovírus humano que não tenha qualquer risco de causar, ele próprio, uma infecção, explica Louis Picker à BBC News, que diz já ter feito isso em laboratório. Segundo o cientista, se as autoridades regulatórias permitirem o uso deste vírus, então as primeiras experiências em humanos poderão já começar daqui a dois anos.
 

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